EconomiAberta

17 agosto 2005

O crescimento...

Às voltas com o crescimento da economia portuguesa. É incrível os pequenos progressos que o país fez.

A idade de ouro dos anos 60 e o segundo salto, especialmente na segunda metade dos anos 80, não foram suficientes para nos retirar da posição relativa que ocupamos desde 1950. Estamos mais perto da média da União mas ainda continuamos a ser os mais pobres.

Em 1950 o PIB per capita era da ordem dos 46% (U.E.=100). Em 2004 foi de 68%.
Na produtividade, medida com o PIB por empregado, passámos de 46% em 1950 para 61% no mesmo período. Andamos em torno dos 60% da produtividade europeia desde a década de 60, com um mínimo de 57% em 1985 e um máximo de 64% em 1995.
É tão estranho - porque é difícil acreditar - que olho os números com cepticismo. Estarão certos? É preciso repensar... talvez recalcular os valores, usando as séries do Groningen Growth & Development Centre.

13 agosto 2005

Excessos keynesianos

No sítio de Xavier Sala-i-Martin, um contributo para keynesianos e não keynesianos no debate da Ota e TGV.
Não seria grave se a economia portuguesa precisasse de "abrir e fechar buracos".
Mas precisa é de reestruturar os "buracos".

O incómodo dos incêndios

Não é possível resistir. A visão dos incêndios transformou-se num problema. Há quem queira que não se transmita. Ao que parece porque, à boa maneira moralista, pode incentivar mais incêndios.
Como toda a gente, já não suporto aquelas horas de imagens com o país a arder. Mas é a realidade, talvez exposta durante demasiado tempo.

Mais grave que as imagens é a exploração do desespero.
Diz o Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses, :

9.O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. O jornalista obriga-se, antes de recolher declarações e imagens, a atender às condições de serenidade, liberdade e responsabilidade das pessoas envolvidas.

Porque será que nenhum responsável político se lembra de alertar para esta regra básica, tão violada nos incêndios como noutros casos?

09 agosto 2005

Os serviços dos bancos

Segunda-feira tive de ir a uma agência de um banco, o que raramente acontece.
Hora de almoço. Pequena agência. Cinco a seis pessoas na fila. Uma pessoa a atender.
De repente surge uma segunda funcionária para explicar aos clientes como devem usar a máquina de depósito de cheques ou dinheiro. Quase todos tinham cheques. Experimenta... A máquina estava bloqueada.

Esperava eu que se sentasse então ao balcão para ajudar a colega. Não. Entrou para um gabinete. E lá ficámos à espera. À minha conta foram 25 minutos. Ainda perguntei se não podiam ter mais ninguém a atender. Não, foi a resposta. Ok. Lá fiz uma reclamação por escrito.
O corte nos custos revela-se na sua pior forma, na degradação dos serviços.
O problema generaliza-se. Nos bancos, nos correios... Espera-se e espera-se. Pensar que o que vendem é qualidade de serviço é pura ilusão. E a concorrência não está a resolver o problema, pelo menos na banca.

Percebe-se que a ideia é forçar os clientes a usar a Net e as máquinas... para reduzir custos. Mas será assim que se faz?

Há tempos, na Amazon, tive de comprar um livro em segunda mão. O fornecedor era dos EUA. Ao mesmo tempo comprei outros na Amazon. O que veio dos EUA chegou nem 15 dias depois. O mail que me enviaram era pessoal, agradeci, pedi factura... Tudo correu bem. Na Amazon foi bastante mais caótico. Os livros perderam-se, tive de andar pelos mails do site... tudo muito pouco amigável. Enfim chegaram, quase dois meses depois.

Os mais recentes estudos dizem que é nos sectores financeiro e na distribuição - grossista e retalhista - que estão as razões do abrandamento da produtividade da União, na segunda metade dos anos 90, quando se compara com os EUA. Sentimos isso no quotidiano.

Três vivas à Vodafone

Sou cliente da Vodafone já há dez anos. E para comemorar o facto até já fui galardoado com uma simpática prenda. Tratava-se de um auricular, daqueles que não necessitam de fio. Mas sucede que as tentativas que fiz para colocar o artefacto em funcionamento foram infrutíferas. Não tenho grandes dúvidas de que a culpa deve ser da minha falta de habilidade para lidar com alguns detalhes das novas tecnologias. Ou, em alternativa, do telemóvel que utilizo actualmente. A bem da verdade, devo confessar que já caiu ao chão em diversas ocasiões e, apesar de continuar a cumprir a sua função, está em condições de poder ser oferecido ao museu da Nokia.
De qualquer forma, os custos em que a Vodafone incorreu devido à boa intenção de distinguir a minha fidelidade acabaram por constituir dinheiro deitado à rua. Nesta matéria, julgo ser pacífico aceitar-se que a empresa não estava em condições de adivinhar ter um cliente que dispõe de um aparelho quase tão antigo como o tempo que decorreu desde o dia em que assinou pela primeira vez um plano de tarifas junto da velhinha Telecel. O mesmo não se poderá dizer em relação a um episódio mais recente.
De tempos a tempos, a Vodafone envia para casa dos seus assinantes o prospecto do Clube Viva, em que dá conta das promoções em vigor e das condições em que os respectivos bens e serviços podem ser acedidos. Pois bem. Nos últimos dias a minha caixa de correio tradicional tem andado particularmente recheada desse material. Já recebi três envelopes contendo uma carta e a publicação promocional datada de Junho e não posso jurar que o rodopio vai ficar por aqui. Pela minha parte, não vejo especial problema em receber três vezes, ou mais, a mesma correspondência remetida por uma empresa de que sou cliente. Só tenho pena que isso não suceda com o rembolso do IRS que, devo assinalar, este ano ainda não deu sinal de vida.
O que me deixa a matutar com os meus botões é que provavelmente não serei, entre as centenas de milhares de clientes da Vodafone, o único que anda a ser informado das actividades do Clube Viva de forma tão persistente. Se assim for, parece-me que os custos da operadora poderiam ser facilmente reduzidos, em eventual benefício dos seus "stake holders", se alguém se preocupasse em controlar o envio da correspondência. Aqui fica, portanto, esta dica ao cuidado da administração liderada por António Carrapatoso, com a promessa de que não apresentarei nenhuma factura "à Mckinsey" pelo alerta. Afinal de contas, ficaria mal cobrar o que quer que fosse por um singelo serviço de consultadoria na área do controlo de custos a uma entidade com quem tenho uma sólida relação comercial desde há uma década.

07 agosto 2005

Nas mãos de São Pedro


Menos calor
Aguaceiros fracos previstos para terça-feira devem diminuir risco de incêndio
O risco de incêndios deve diminuir a partir de terça-feira. Estão previstos aguaceiros fracos e uma descida gradual das temperaturas. Os termómetros devem acusar menos dois a cinco graus já a partir de amanhã.
SIC/Sapo.pt

É assim. Um país que depende de São Pedro.
Todos os anos tudo se repete.
Nem que todos os portugueses fossem transformados em bombeiros, o problema se resolvia desta maneira.
Para que servem as autarquias?
Não deviam, na Primavera, prevenir os fogos?
E o Governo?
Só se lembra dos fogos - e quando a desgraça é muita- quando o país está a arder?
Planeamento e prevenção, alguém sabe o que são?
E depois dos incêndios, lá fica a terra queimada.
A Arrábida ainda está como estava, no dia em que ardeu.
Triste.

Da economia portuguesa

A economia portuguesa registou a mais elevada taxa de crescimento, no conjunto dos países da Coesão, entre 1986 e 1993, ultrapassando a Irlanda. A taxa anual foi de 4,7% face aos 4,1% da Irlanda, 3,9% em Espanha e 1,9% na Grécia.
A partir de 1993 assistimos a um sucessivo abrandamento na taxa de crescimento.
Vivemos o quinto ano de divergência face ao crescimento médio da UE a 15. O mais longo período desde 1950.
A UE enfrenta igualmente um abrandamento da sua actividade económica face aos EUA. A produção por hora trabalhada, que se aproximava da norte-americana em meados dos anso 90, começou a crescer mais lentamente a partir de 1995.
Alguns autores apontam como causa o atraso na utilização de novas tecnologias e/ou excesso de regulamentação dos mercados de trabalho e produtos.
O mercado único nasceu em 1993 e a moeda única em 1999. Potenciar as suas vantagens exige também outras estruturas, a conquista de novos mercados e o desenvolvimento de novos produtos e serviços.

Mensagens de decepção

O caso CGD desencadeou muitos sentimentos de decepção.
Foram as mensagens mais frequentes que se foram ouvindo e lendo.
Muitos relembraram os ditados mais populares sobre o exercício do poder.
A expectativa parecia elevada, alimentada pelas medidas anunciadas para a redução do défice.
Os tempos não estão fáceis.

05 agosto 2005

Vamos para a praia

As boas notícas escasseiam nos dias que correm. Por isto, de cada vez que um "press-release" entra na caixa de correio electrónico anunciando uma evolução positiva num indicador, a curiosidade leva a que se abra de imediato o documento. Foi o que sucedeu hoje com um conjunto de previsões de recrutamento das empresas portuguesas, elaborado a partir de um inquérito realizado pela MRI Worldwide. O título era animador: "as empresas portuguesas vão recrutar mais na segunda metade de 2005". Aparentemente, o desemprego estaria em vias de estabilizar ou, até, de começar a diminuir, dando um sinal ao Governo de que não necessitaria de abrir vagas na Função Pública com o objectivo de criar os tais 150 mil empregos que prometeu durante a campanha eleitoral para as legislativas de Fevereiro passado.
As conclusões do estudo da MRI são, no entanto, um pouco menos exuberantes do que poderia parecer à primeira vista. Há, de facto, um crescimento na percentagem de empresas inquiridas que prevêem aumentar as contratações durante o segundo semestre deste ano, passando de 30,2% de Janeiro a Junho para 32,9% do total. Mas a desagragação deste número confirma as eventuais desconfianças. O sector que fornece o mais intenso contributo para a melhoria daquela média é o turismo. O início do segundo semestre coincide com a época alta e nada mais óbvio, portanto, do que esperar um reforço de quadros para acorrer ao aumento da procura de serviços nesta área.
Não surpreende, também, que entre os seis sectores de actividade identificados apenas a construção civil e obras públicas acompanhem o turismo no que se refere a progressos nas intenções de criação de novos empregos. O exercício actual é marcado pelas eleições autárquicas, o que significa a conclusão de obras em curso e o lançamento de projectos, com o objectivo de impressionar os eleitores na hora de decidirem em quem vão votar. De resto, aquilo que o estudo em causa transmite é que numa área como as tecnologias da informação, em que o discurso oficial garante apostar, 47,3% das empresas afirmam que vão aumentar os seus quadros de recursos humanos, o que, não sendo negligenciável, corresponde a uma percentagem menor do que aquela que se verfificou no primeiro semestre, quando o chamamento do choque teconólgico criou expectativas.
A correcção dos constragimentos estruturais da economia portuguesa é um processo para demorar longos anos. Mas, para já, nada de novo nesta frente. Os sectores mais optimistas e confiantes são os mesmos de sempre. E se, como é o caso do turismo, podem ajudar a compensar a falta de vitalidade das exportações, não se deve esperar que venham a assegurar a transição para um aparelho económico inovador e competitivo. Se, no fim de tudo isto, ao menos a OCDE tivesse divulgado alguma nota risonha sobre o futuro próximo de Portugal, o fim-de-semana até poderia começar de forma mais aprazível. O problema é que o indicador avançado elaborado pela organização registou uma queda em Junho passado, alertando para um novo abrandamento, a curto prazo, do ritmo de crescimento. O melhor é irmos todos para a praia porque o campo está a arder.

04 agosto 2005

O Terminal da Europa

O debate sobre um novo aeroporto vai continuar até que alguém se lembre de tomar uma decisão. Definitiva e sem espaço para recuo.
Uma pesquisa rápida aos arquivos permite concluir que, desde 1997, a polémica se centrou em localizações: Ota ou Rio Frio. E aos especialistas convocados para o debate, a grande maioria das vezes, apenas se pediu que abonassem a favor de uma delas. Ou então da manutenção da Portela.
Nos dias que correm a localização continua a ser o núcleo do debate.
Como tal vale a pena recordar o primeiro nome de baptismo da Portela: Aeroporto Terminal da Europa.
Não por acaso, certamente.
Atendendo a que geografia de Portugal não mudou, de 1945 a 2005, esta nomenclatura tem o se quê de profético.
Ou seja, tirar o aeroporto internacional da zona da Grande Lisboa, é assumir que o país é mesmo o terminal, enquanto fim, da Europa; e não o terminal, enquanto ponto de partida para África e América e de chegada à Europa.
A Ota, se for em frente, só serve para demonstrar a periferia do nosso pensamento estratégico.
E demonstrar uma vez mais que isso da vocação atlântica de Portugal, afinal, só serve mesmo para a poesia.

Um país em ficção

Era uma vez um país, num mundo distante, onde o poder era decidido pelo voto dos cidadãos em grupos a que chamavam partidos. Os partidos convenciam os eleitores com festas e engalanando as cidades. Quem ascendesse ao poder podia tomar decisões sobre negócios de milhões e arranjar empregos. E alargar ainda mais o seu poder sobre as mais pequenas decisões da vida urbana. Podia, se quisesse, decretar que era preciso autorização governamental para mudar de casa ou de carro.

Os partidos estavam proibidos de pedir dinheiro aos cidadãos e às empresas para pagar as suas festas.

As empresas e muitos cidadãos desse país sabiam que a sua vida dependia das decisões de quem estivesse no poder. E sabiam que os grupos não tinham dinheiro para fazer as festas e engalanar as cidades. Os partidos sabiam que as suas decisões poderiam ser determinantes para o progresso ou a morte de uma empresa. Estava criado o mercado da Decisão, com oferta, procura e preço. Com um pequeno problema, a lei não autorizava. Existia aqui um risco.

Mas quem faz a lei? Quem influencia a sua aplicação? Nesse pequeno país a investigação dos crimes dependia de quem estivesse no poder. Mas o risco continuava a existir. Um ou outro funcionário mais diligente podia sair do controlo de quem estava no poder. Muito bem. Há esse problema. Empresas e partidários fizeram contas. Quanto se perde se a ilegalidade for descoberta? Quanto se ganha se não for detectada? Os ganhos são superiores às perdas. Avancemos. Se há um risco soma-se ao preço um prémio de risco.

O mercado está formado. Bolsa de Decisão. Com riscos, como todas as bolsas. Mas obviamente todos os que tinham algum grande negócio tentavam participar nela. Quem não entrasse no mercado corria um sério risco de sobrevivência, seria irracional. Ou não teria “sensibilidade política”.

03 agosto 2005

Salas de convívio

Como trabalhador independente, uma boa parte das minhas tarefas profissionais são actualmente realizadas em casa. As vantagens são evidentes. Ao contrário daquilo que sucede com a maioria dos portugueses, tenho sala de convívio com sofá, revistas e jornais. Tudo isto acrescido de um sistema de som onde, nos intervalos, posso escutar aquilo que me apetece sem ter de fazer concessões a coleguinhas que talvez preferissem o Robbie Williams a um clássico de "jazz". É verdade que nem sempre há fruta. Mas sendo eu patrão de mim próprio, sei que os processos reivindicativos são simples de resolver. Estou sempre disponível para ouvir as minhas próprias queixas e aposto que ninguém que trabalhe por conta de outrém se pode gabar do mesmo grau de disponibilidade por parte dos seus chefes.
Não sei se nos países nórdicos os locais destinados pelas empresas aos momentos de convívio de quem nelas trabalha têm melhores condições. É provável que sim. Apesar das aparências que suscitam a condescedência dos mais ferrenhos adeptos do socialismo, é o sistema capitalista que vigora nessas nações onde, além de mulheres míticas de cabelos dourados, se produzem bens que, tal como a pasta medicinal Couto, andam na boca de toda a gente devido aos seus preços e qualidade competitivos. Provavelmente, uma visita às fábricas da Volvo ou da Nokia permitiria vislumbrar, com os óculos ideológicos adequados, que as tais salas de convívio talvez não passem, afinal, de uma forma subtil de manter os colaboradores amarrados durante mais tempo às respectivas empresas. Iludidos pelas preocupações sociais dos seus empregadores, deixar-se-iam ficar, quiçá negligenciando os seus afazeres domésticos e as suas obrigações familiares. E, já se sabe, quem não se balda do local de trabalho assim que conclui as suas tarefas arrisca-se a ser recrutado para dar uma ajuda naquilo que houver para fazer.
Posto isto, o facto de as empresas portuguesas negligenciarem, alegadamente, o investimento nas suas salas de convívio parece-me ser uma estratégia dois-em-um, plenamente eficaz sob os pontos de vista social e económico. Por um lado, o mobiliário decrépito e a ausência de motivos de dispersão da atenção abreviam os intervalos, o que contribui certamente para evitar que os índices de produtividade em Portugal sejam ainda piores do que aquilo que já sucede. Em segundo lugar, nenhum patrão parece estar interessado em promover a permanênia na empresa para além do horário de trabalho, o que teria maiores hipóteses de acontecer se as controversas salas de convívio competissem, em conforto, variedade de bens culturais e, até, em matéria de oferta gastronómica, com os lares de cada um. Eu sei que em Portugal há muita coisa incompreensível, mas apontem-me o gestor que incentiva os seus empregados a fazerem horas extraordinárias e eu jamais voltarei a escrever neste blog.

Um negócio entre aspas

"Benfica compra Sporting"

A Adidas, marca de deporto que equipa o Benfica, acaba de adquirir a norte-americana Reebok, empresa que fornece o Sporting, por 3,1 mil milhões de euros. Esta é a primeira vitória da equipa da Luz sobre os seus rivais da Segunda Circular, mesmo antes do início da SuperLiga.

A CGD na teoria da "captura"

A história recente da CGD é a imagem da degradação do regime. A nomeação da nova administração é… lamentável.
Não está, obviamente, em causa a necessidade de alterar a administração. Estava fragilizada desde o famoso caso da demissão/não demissão no fim do ano passado.
Não está também em causa a escolha do presidente.
Mas... nomear Armando Vara para a administração...
E não, não se está a condenar uma pessoa que a justiça ilibou.
O novo administrador não tem curriculum para ser administrador de um dos maiores bancos portugueses. Que valores se levantam tão alto para pessoas sensatas decidirem desta maneira?

Depois de se assistir à total ausência de envolvimento do PS nas medidas necessárias à redução do défice público, depois de se andar a falar de OTA’s e TGV’, depois da demissão de Campos e Cunha… Eis mais este caso da nomeação da administração da Caixa para nos mostrar que não se rompeu qualquer circulo. É o mesmo.

No domínio da Escolha Pública existe a teoria da “captura”. Os grupos de interesse, depois de entenderem as regras do jogo de um sistema “capturam-no”. Alguns economistas usam esta teoria para explicar o abrandamento do crescimento económico nos países europeus a partir de finais dos anos 60.

Os partidos políticos estão “capturados”. Numa organização apanhada por grupos de interesse não há líderes capazes de impor o interesse do país.
Ao que acontece muitos chamam política. Não é. Estamos num circuito fechado de manobras, num vale tudo para enriquecer, financiar actividades partidárias… E a acção de cada um no grupo deixou de garantir o aumento de bem estar da sociedade. E é por aqui que as ameaças ao próprio sistema começam

Portugal não é caso único. As democracias estão todas em geral com o mesmo problema.
Um dia quem capturou será forçosamente capturado.
É pena que tenha de ser assim.

O circo dos três euros

O país está em crise.
Fatalmente.
Inexoravelmente.
E o país real já há muito percebeu a dimensão da catástrofe.
Por isso, com o empreendedorismo que lhes é peculiar, os portugueses montam negócios como as lojas dos dois euros. Os comerciantes fazem saldos antes de tempo. As revistas vendem chinelas, toalhas de banho e afins. E assim por diante.
Convenhamos que o Governo também faz tudo para combater a iletracia com uma estratégia a todos os títulos notável. Alimenta, nos jornais, praticamente desde que tomou posse, a polémica sobre a Ota e o TGV, e quando percebe que a estratégia está a fraquejar nomeia alguém para um cargo público, fazendo passar a mensagem de que se trata de um ‘job for the boys’, quando na verdade se trata de um acto patriótico. Por isso nomeou Fernando Gomes para a Galp, Armando Vara para a CGD, e certamente que estão em exercícios de aquecimento outras figuras incontornáveis do PS como Narciso Miranda, dispostas a sacrificarem-se em prol da NAÇÃO. Assim mesmo, em maiúsculas, porque a grandeza dos actos a tal o obriga.
No fundo – porque há sempre um pecado original –, este Governo está a plagiar a estratégia mais recente dos empresários circenses que, no sentido de combater a falta de espectadores, resolveram criar o conceito do circo dos três euros. Ou seja, por um preço baixo, o cliente tem na mesma acesso a um pacote completo que inclui animais, acrobatas, palhaços, e até de um mestre de cerimónias.
O que este Governo fez, e bem, foi aperfeiçoar o conceito. Através da mera compra de um jornal ou do visionamento de um telejornal, os portugueses têm acesso a um circo muito mais completo, competentemente dirigido pelo nosso primeiro-minsitro.
Bem haja, engenheiro Sócrates, por oferecer a um país em crise, espectáculos de borla.
E só as pessoas mal formadas, entre as quais se inclui obviamente a oposição, é que não percebem isto.

Eufemismos, parte II

Eufemismo, de acordo com o dicionário de sinónimos que tenho aqui à mão, corresponde a suavização. Ora, perante os baixos índices de produtividade que se registam em Portugal, nada me parece mais óbvio do que chamar "colaboradores" àquilo que noutros países, onde de facto se trabalha, se apelida de "trabalhadores". Trata-se de uma oportuna e inteligente suavização que só alguém que ainda esteja agarrado às barbas de Karl Marx pode teimar em não querer aceitar.
Há que não esquecer, também, que estamos na terra onde até já houve cigarros que ostentaram a marca "Português Suave". Aqui está outro eufemismo que, tal como o dos "colaboradores", me surje como sendo extremamente bem caçado, tendo em conta a "ligeira tosse" - eufemismo de "convulsão pulmonar"" - que tais cigarros provocavam em quem os consumisse.
Outra situação. Por alguma razão em Portugal os "colaboradores" do Estado são apelidados de "funcionários públicos". Chamar-lhes "trabalhadores" seria um eufemismo. Houve que suavizar o qualificativo, o que revela bom senso e sentido de justiça. E a solução é tão genial, que aqueles "colaboradores" são tidos como "funcionários", mesmo quando ninguém lhes reconhece qualquer função relevante para o bem da pátria, a não ser os próprios. Mais um eufemismo que não o seria se a quem trabalha na máquina pública se chamasse "Assalariados do Estado". Seria mais rigoroso mas, lá está, não seria suave.