EconomiAberta

03 agosto 2005

O circo dos três euros

O país está em crise.
Fatalmente.
Inexoravelmente.
E o país real já há muito percebeu a dimensão da catástrofe.
Por isso, com o empreendedorismo que lhes é peculiar, os portugueses montam negócios como as lojas dos dois euros. Os comerciantes fazem saldos antes de tempo. As revistas vendem chinelas, toalhas de banho e afins. E assim por diante.
Convenhamos que o Governo também faz tudo para combater a iletracia com uma estratégia a todos os títulos notável. Alimenta, nos jornais, praticamente desde que tomou posse, a polémica sobre a Ota e o TGV, e quando percebe que a estratégia está a fraquejar nomeia alguém para um cargo público, fazendo passar a mensagem de que se trata de um ‘job for the boys’, quando na verdade se trata de um acto patriótico. Por isso nomeou Fernando Gomes para a Galp, Armando Vara para a CGD, e certamente que estão em exercícios de aquecimento outras figuras incontornáveis do PS como Narciso Miranda, dispostas a sacrificarem-se em prol da NAÇÃO. Assim mesmo, em maiúsculas, porque a grandeza dos actos a tal o obriga.
No fundo – porque há sempre um pecado original –, este Governo está a plagiar a estratégia mais recente dos empresários circenses que, no sentido de combater a falta de espectadores, resolveram criar o conceito do circo dos três euros. Ou seja, por um preço baixo, o cliente tem na mesma acesso a um pacote completo que inclui animais, acrobatas, palhaços, e até de um mestre de cerimónias.
O que este Governo fez, e bem, foi aperfeiçoar o conceito. Através da mera compra de um jornal ou do visionamento de um telejornal, os portugueses têm acesso a um circo muito mais completo, competentemente dirigido pelo nosso primeiro-minsitro.
Bem haja, engenheiro Sócrates, por oferecer a um país em crise, espectáculos de borla.
E só as pessoas mal formadas, entre as quais se inclui obviamente a oposição, é que não percebem isto.