EconomiAberta

11 setembro 2005

Estatísticas e desemprego

A controvérsia sobre os números do desemprego trouxeram-me à memória o famoso livro das mentiras com estatísticas que não sei por onde anda mas que se pode ver aqui. Todos têm, de facto, razão. O desemprego aumenta se compararmos o segundo trimestre deste ano com o primeiro de 2004. A taxa de desemprego passou de 6,3% da população activa para 7,2% e o número de desempregados subiu 15%. O desemprego diminui se compararmos o segundo trimestre de 2005 com o primeiro. A taxa cai de 7,5% para 7,2% e o número de desempregados reduz-se em 3,2%. Está tudo aqui

O problema é saber qual a tendência. Será que existe alguma tendência para o desemprego se reduzir? Não parece. As contas trimestrais revelam que a actividade económica não dá sinais de reanimação. Desde o quarto trimestre do ano passado que a economia está a crescer abaixo de 1%, parecendo estar de novo a afundar-se depois dos sinais de retoma dados nos últimos meses de 2003. O passado diz que a economia começa a criar emprego dois a três trimestres depois de crescer a um ritmo da ordem dos 2,5%.

Os números são tudo menos animadores. O Valor Acrescentado na Construção está a cair consecutivamete desde o segundo trimestre de 2002. Este sector estava com um peso excessivo e podemos estar a assistir a uma correcção e não apenas a uma queda conjuntural. E a indústria, depois de ter ensaiado uma retoma no terceiro trimestre de 2003, está agora a ver a sua produção (valor acrescentado) diminuir desde o terceiro trimestre de 2004.

Não há sinais de retoma e a subida do preço do petróleo apenas reforça essa perspectiva pouco animadora. O que torna os objectivos para o défice do Orçamento do Estado para 2006 complicados.

A recuperação acentuada da economia europeia é o que se pode desejar para tornar um pouco menos difícil este reajustamento da economia portuguesa. As políticas de iniciativa governamental pouco podem fazer além de evitar que o futuro seja ainda pior, se caírem na tentação de usar o Orçamento para dar alento à economia. Não fazer asneiras é a melhor política sempre. Mas tem especial valor nesta altura.

1 Comments:

  • Ouvi falar desse livro quando estava na Universidadae Eduardo Mondlane, em Moçambique. Já lá vão uns anos largos. O professor era norte-americano, da esquerda romântica, e, na altura, explicava como as estatísticas podiam ser manipuladas, tanto no ocidente como nos países dos socialismos. Claro que a adulteração dos números era sempre feita pelos outros, os do bloco contrário.
    Coisas do tempo da Guerra Fria.

    Hoje, embora já não haja guerra, as coisas continuam um bocado frias, de acordo com os números. Nessa altura também. Ainda se sentiam os efeitos do primeiro choque petrolífero.

    By Anonymous Anónimo, at domingo, setembro 18, 2005 6:08:00 da tarde  

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